Vejo o futuro repetir o passado
Quantas orelhas de Van Gogh são necessárias para ouvir o quê diz um artista?
Esta talvez seja uma pergunta, assim como tantas outras, que possivelmente não venha nunca a ser respondida por alguém; Por alguns motivos mais óbvios e outros um pouco mais obscuros.
A arte, talvez seja um dos ofícios (se não o único) que tem o poder de mexer com o imaginário humano, alimentando o lado lúdico e fictício que há dentro de cada ser humano, mesmo quando retrata a realidade de sua época.
Se por um lado ativa o poder crítico do raciocínio através de belas imagens ou por vezes, através de uma representação mais crua das imperfeições e escárnios humanos, por outro, isola e condena seu autor a pairar no “limbo do isolamento mudo” criado pelas expectativas e conclusões pessoais de quem vê uma obra e personifica a seu modo e maneira quem a fez, modo e maneira que nem sempre condiz com a realidade individual de seu autor.
É fato comum encontrar quem diga quê: “o artista só tem valor depois de morto” ou pessoas que se comovem com histórias tristes dos infortúnios vividos por artistas de épocas distintas; Ainda por outro lado uma porcentagem considerável de pessoas que ficam maravilhadas com histórias de “sucesso” alcançadas por este ou aquele artista.
O fato, tão real quanto cruel, é que esta cultura continua sendo alimentada, e ainda serão necessários diversos pares de décadas para que isto seja modificado, dentro desta mentalidade de inércia e comodismo.
Artistas continuam não sendo ouvidos nem tampouco respeitados em suas essências, permanecendo como sempre a mercê, seja de um “mercado de arte” que dita regras e conceitos que normalmente precedem a obra em si ou dos diversos círculos fechados de “formadores de opinião” que habitam em um universo restrito a poucos.
Em ambos os casos, o que eu vejo, é um bando de urubus reunidos e esperando ansiosos pela próxima orelha, e já planejando como farão para que seja considerado genial aquilo que talvez não tenha uma ampla e sólida compreensão no meio da arte.
Finalizo ressaltando dois detalhes, a meu ver, de extrema importância:
- Torço para que aquilo que for considerado genial daqui a cem anos, tenha ao menos parte da genialidade e da qualidade de um Van Gogh.
- E que tenha mais conteúdo do que inúmeras excentricidades e pesquisas vazias de sentimentos do quê as que vemos hoje espalhadas por diversas e importantes galerias e feiras de arte que fazem parte de um “modismo contemporâneo” desenfreado por um consumo cômodo de “porquês” e norteado por negociações pré-estabelecidas de interesses puramente comercias.
Ps.: Abençoados sejam aqueles que fazem parte das exceções de todas as regras.