Um italiano paulista de coração brasileiro.

14/04/2013 01:05

Alfredo Volpi, hoje completaria 117 anos, fica aqui nossa lembrança e homenagem a esse mestre e grande nome da pintura nacional.

Nasceu na Itália, em 14 de abril de 1896, no distrito de Lucca, mas foi em São Paulo, no bairro do Cambuci, que passou toda a sua vida. Com apenas dois anos de idade, o artista veio com a família para o Brasil, onde o pai, Ludovico Volpi, abriu um pequeno comércio de queijos e vinhos. Ainda criança, começou a trabalhar como entalhador, encadernador e realizou outras atividades manuais. Sempre valorizou o trabalho artesanal.

Apesar de não ter se naturalizado brasileiro e de ter sido alfabetizado em italiano, mantendo um forte sotaque e ligação com a cultura do país natal, o artista dizia que seu coração era brasileiro. Em toda a vida, Volpi visitou a Itália apenas uma vez, em 1950.

Autodidata, ele começou a pintar em 1911, na execução de murais decorativos. Como afirma o curador Olívio Tavares de Araújo, antes de ser um pintor de cavalete, Volpi era um pintor-decorador. Ele realizou ornamentos nas casas da sociedade paulista das décadas de 20 e 30. Pintava preferencialmente fachadas de casarios e bandeirinhas que geometrizou.

 “Se ele entrou alguma vez nessas residências foi de tamanco e carregando baldes de cal, para trabalhar e não para conversas inteligentes e saraus.” Embora não tenha feito parte de um dos momentos artísticos mais marcantes de nossa história, o pintor ítalo-brasileiro é considerado pela crítica um dos artistas mais importantes da segunda geração do modernismo.

Volpi foi um artista autodidata. Habilidoso, produzia as próprias tintas. Sua arte transita por diversos estilos e escolas artísticas, sendo perceptíveis as influências do impressionismo, da obra de pintores pré-renascentistas e, após 1950, das vanguardas europeias do começo do século XX.

Avesso às teorias artísticas, Volpi foi um criador intuitivo, de forma que conseguia aproximar elementos antes tidos como contraditórios. Ele participou de exposições organizadas pelos grupos, concreto e neoconcreto paulista e carioca. Eles viam em Volpi uma arte de transição, entre o moderno e o contemporâneo. Ele fazia tudo sem precisar assinar manifestos ou participar de movimentos, seguindo apenas o que orientava a sua verve criativa.

As cores são únicas, é possível perceber que sua produção unia intuição, estudo e acompanhamento das tendências que marcavam a arte mundial naquele momento.

Os estudos do artista se tornam mais consistentes a partir da década de 1930, época em que passou a frequentar o grupo “Santa Helena”; O grupo era formado por artistas mais modestos social e culturalmente, mas que nem por isso deixaram de escrever o seu nome na história da arte brasileira. Foram importantes nomes, em especial na segunda geração dos modernistas, a exemplo de Volpi. A denominação Santa Helena referia-se ao nome do edifício, no centro de São Paulo, onde se reuniam. Faziam parte do grupo: Aldo Bonadei, Clóvis Graciano, Manoel Martins, Fulvio Pennacchi, Rebolo Gonsales, Alfredo Rullo Rizzotti, Humberto Rosa e Mario Zanini, além de Volpi.

Prova do reconhecimento do talento singular de Volpi é a recepção do crítico Sérgio Milliet e de Mário de Andrade sobre a primeira individual do artista ítalo-brasileiro, realizada em 1944. Com suas bandeirinhas, casarios e marinhas, Volpi conseguiu ser mais do que um simples colorista, uma vez que a estilização das formas, associadas ao jogo de cores, o levaram em 1950 ao abstracionismo geométrico. Talvez seja, neste momento, a grande virada de sua carreira, mostrando que seu trabalho fugia de um figurativismo meio estilizado, com temática popular, características do início de sua carreira.

A crítica destaca a capacidade de absorver a racionalização abstrata da pintura concreta sem perder a graça, e, sob o seu pincel, os temas geométricos mais rigorosos são sensibilizados por uma cor que funciona pela precisão, pela pureza e pelo toque de lirismo pessoal, que Mário Pedrosa considerou "inconfundível".

Volpi morreu em São Paulo, aos 92 anos, em 28 de maio de 1988.

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