Ao Eterno Marcello Grassmann
Nossa pequena homenagem a um grande mestre da gravura brasileira que nos deixou recentemente e que foi definido como um “espécime raro” da arte nacional pela crítica Aracy Amaral.
Um dos maiores mestres da gravura brasileira, Marcello Grassmann morreu na última sexta-feira, 21, aos 87 anos de falência múltipla dos órgãos no hospital Samaritano. Ele estava internado na unidade de saúde há dez dias em razão de uma pneumonia.
Sua obra, produzida ao longo de mais de seis décadas de intenso trabalho, é marcada por um universo temático povoado por figuras de caráter mitológico e fantástico e por um impressionante refinamento técnico.
Em vários depoimentos, confessa o interesse desde criança pelas figuras e desenhos dos livros e das revistas em quadrinhos, dando destaque às ilustrações do gravador francês Gustave Doré para clássicos como D. Quixote e Divina Comédia. "A imagem, para mim, sempre foi fundamental", afirmava.
Grassmann dizia recorrer sempre a uma espécie de arquivo imagético acumulado na memória para produzir seus trabalhos, explorando em diferentes configurações, formatos e composições elementos muitas vezes reiterativos, como as damas e cavaleiros medievais com seus atributos de guerra ou sedução, os dragões e outros animais como o cavalo e o bode, bem como a uma atmosfera densa, marcadamente fascinada pelo lado oculto da vida.
"É o inconsciente que fala e não eu", dizia ele sobre o porquê de suas escolhas. Esse interesse pelo universo das sombras e dos sonhos o aproxima do expressionismo mais soturno de outro grande mestre gravador brasileiro, Oswaldo Goeldi, ou pelo universo fantástico de Hieronymus Bosch.
Muitas vezes foi questionado sobre a razão de ter se mantido fiel à figuração num período de grande hegemonia do construtivismo e da arte abstrata no País. "Eu já tinha o meu rumo", diz em entrevista publicada por Camila Molina, em 2006, no Estado de São Paulo, por ocasião da mostra que celebrou o seu 80.º aniversário.
Sua última exposição foi há pouco mais de um ano, no Espaço Cultural Citi onde 33 gravuras e matrizes em metal gravadas pelo artista foram exibidas na exposição "Matéria dos Sonhos". O artista, que era avesso ao caráter mais mundano do circuito das artes e nos últimos anos tinha dificuldades de locomoção e equilíbrio por causa de uma doença chamada mielomalácia, também não se sentia à vontade com as tentativas de enquadrá-lo nesta ou naquela escola. Dizia ser avesso aos "ismos". Como afirma Aracy Amaral, Marcello Grassmann foi um "espécime raro" da arte brasileira, pela solidez de sua criação, por ser um desenhista de caráter primoroso e por "viver exclusivamente em função de seu espaço criativo".
Fica registrado aqui nosso carinho e grande admiração pelo homem e grande artista que foi e continuará sendo eternamente em nossa memória.
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